Supralapsarianismo e Infralapsarianismo: Entendendo as Ordens dos Decretos Divinos
Um dos debates mais profundos e complexos envolve a ordem dos decretos divinos de Deus em relação à criação, queda e redenção da humanidade.
4/4/20254 min read


Dentro do vasto campo da teologia reformada, um dos debates mais profundos e complexos envolve a ordem dos decretos divinos de Deus em relação à criação, queda e redenção da humanidade. Esse debate é encapsulado em duas posições principais: supralapsarianismo e infralapsarianismo. Compreender essas doutrinas é crucial para uma teologia sólida e bíblica, pois elas moldam como entendemos a soberania de Deus e o Seu plano eterno de salvação.
O Que é o Supralapsarianismo?
O supralapsarianismo é a posição que afirma que Deus, ao planejar o mundo e seus eventos, decretou a eleição dos eleitos e a reprovação dos réprobos antes mesmo de considerar a criação do mundo e a queda do homem no pecado. Em outras palavras, dentro do esquema supralapsariano, Deus primeiro decidiu quem seria salvo e quem seria condenado, e somente depois decidiu criar o mundo e permitir a queda.
Esta posição coloca uma ênfase intensa na soberania absoluta de Deus. Os defensores do supralapsarianismo argumentam que essa ordem dos decretos reflete a primazia da glória de Deus na escolha dos eleitos, independentemente da queda do homem. Em outras palavras, Deus escolheu salvar certos indivíduos e condenar outros com o propósito de exaltar a Sua própria glória.
Os supralapsarianos frequentemente citam passagens como Romanos 9:22-24, que fala sobre como Deus "suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a destruição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória sobre os vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória". Para os supralapsarianos, esse texto sugere uma predestinação anterior à criação e queda.
O Que é o Infralapsarianismo?
O infralapsarianismo, por outro lado, é a visão que posiciona os decretos de Deus em uma ordem ligeiramente diferente. De acordo com essa posição, Deus primeiro decretou criar o mundo, depois permitir a queda, em seguida eleger alguns para a salvação e, finalmente, reprovar outros à condenação.
No infralapsarianismo, a queda do homem no pecado já foi levada em consideração antes de Deus decidir quem seria salvo e quem seria condenado. Esse esquema de pensamento é muitas vezes visto como uma tentativa de reconciliar a soberania de Deus com a responsabilidade do homem pelo pecado. Os infralapsarianos argumentam que Deus, ao decretar a eleição e reprovação, fez isso com a queda já em vista, o que preserva a justiça divina ao punir o pecado.
Uma passagem frequentemente associada a essa visão é Efésios 1:4-5, onde se diz que Deus "nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para adoção de filhos por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade". Neste contexto, a escolha ocorre em um mundo caído, onde a necessidade de redenção já é um fator.
Comparando Supralapsarianismo e Infralapsarianismo
Ambas as posições compartilham um compromisso com a soberania de Deus na eleição e predestinação. No entanto, diferem na maneira como entendem a ordem lógica dos decretos divinos.
Os supralapsarianos defendem que a eleição ocorre antes da consideração da queda, enfatizando a supremacia da glória de Deus em Seu plano eterno. Já os infralapsarianos acreditam que Deus decretou a eleição com a queda do homem já em vista, o que enfatiza a justiça de Deus em responder ao pecado humano.
Essas diferenças refletem variações na ênfase teológica: o supralapsarianismo tende a destacar a glória de Deus em Suas decisões soberanas, enquanto o infralapsarianismo dá uma maior consideração à justiça e misericórdia de Deus dentro de um mundo caído.
A Perspectiva Bíblica: Infralapsarianismo como a Melhor Explicação
Embora ambas as posições tenham seus méritos e cada uma busque honrar a soberania de Deus, o infralapsarianismo é frequentemente visto como mais alinhado com o testemunho das Escrituras. A Bíblia, ao falar sobre os decretos de Deus, geralmente os coloca em um contexto em que a queda já é um fator considerado.
Por exemplo, em Romanos 8:29-30, Paulo escreve: "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou". Nesta passagem, a predestinação está conectada ao conhecimento prévio de Deus, sugerindo que Deus viu a condição caída da humanidade antes de decretar a eleição.
Além disso, o conceito de um Deus justo, que responde ao pecado com a eleição e a reprovação, é um tema consistente nas Escrituras. Em 2 Pedro 3:9, lemos: "O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se." Isso mostra o desejo de Deus de salvar, e o infralapsarianismo reflete melhor essa realidade, pois considera a queda antes da eleição.
Conclusão
O debate entre supralapsarianismo e infralapsarianismo é profundo e teologicamente rico. Cada posição oferece uma perspectiva distinta sobre como Deus ordena Seus decretos eternos. No entanto, o infralapsarianismo, com sua ênfase na justiça e misericórdia de Deus em resposta ao pecado humano, parece estar mais alinhado com o testemunho geral das Escrituras.
Ao final, qualquer posição adotada deve sempre buscar glorificar a Deus e reconhecer a profundidade do Seu plano eterno. Mas, com base nas evidências bíblicas e na consideração da queda, o infralapsarianismo emerge como a posição mais coerente e bíblicamente sólida. Que essa compreensão nos leve a uma maior reverência e adoração ao Deus soberano, cujos decretos são perfeitos e justos em todos os aspectos.